Estranhamento

"Porque, se fores embora,

não vais encontrar outra cidade para viver.

Mesmo se encontrares, a tua cidade vai atrás de ti."

Milton Hatoum

em "Órfãos do Eldorado"

 

Ursula Tautz apresenta fotografias e uma videoinstalação. Pesquisando as relações que envolvem o habitar, o pertencer, a artista utiliza a (re) significação do espaço para o desenvolvimento de suas questões: a inquietação, um certo mal-estar permanente, condição pós-moderna de ser estrangeiro na própria terra.  A série de fotografias foi desenvolvida na cidade de Ołdrzychowice Kłodzkie, Polônia, antiga Ullersdorf an der Biele, local de origem de sua família. São 5 fotografias manipuladas digitalmente, impressas em papel fotográfico sobre PS, além de uma projeção em looping na parede. Nestas apreensões, em posição fetal e de vermelho, a artista atua como personagem para se fundir à paisagem e à arquitetura. Após o registro, Ursula sobrepõe duas ou mais fotos, criando um duplo dela mesma, procurando outros significados para o espaço fotografado.                          

             Ursula Tautz faz uma viagem de buscas. Intrigada com a trajetória familiar, vai ao encontro do passado que não conheceu, mas que está sempre presente, povoando de  lembranças e memórias o seu cotidiano. Refazer o caminho percorrido por seus parentes é um impulso vital, necessário e urgente. Mais do que tudo a artista procura a sua história, seus locais de pertencimento, suas raízes. É importante que nada fique esquecido. Nem a guerra, nem a fome, nem a casa da Polônia e seus arredores.  Refazer ciclos ajuda a aplacar angustias e sentimentos de falta, mas nunca o estranhamento do não pertencimento!

             A proposta da artista é bastante reveladora de suas inquietações. Em solo polonês, terra natal de seus ancestrais, Ursula busca renascer, encontrar seu lugar.   Assume uma posição fetal e se deixa fotografar sobre a terra, sobre a vegetação que cresce independente, sem cuidados. Ali é seu lugar de gestação, lugar secreto, aconchegante e familiar, mas também, de certo modo, estranho.  “O estranho é algo secretamente familiar que foi submetido à repressão e depois voltou”, segundo menção de Freud, sobre artigo de 1919.  A identificação com o lugar é tanta que ela mesma vai aos poucos se misturando à vegetação.  A luz e as cores completam o texto que surge por trás da imagem.  Com extrema delicadeza, as imagens de Ursula falam de reencontro, mudanças, entrega e aceitação.

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                                                                                                                                                                                                                                                                                           Uncanny

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                     "Because if you leave,
you will not find another city to live.
Even if you do, your city will go after you. "
Milton Hatoum
in "Orphans of Eldorado"

Ursula Tautz presents photographs and a video installation. Researching the relationships that involve living, belonging, the artist uses the (re) signification of space for the development of her questions: restlessness, a certain permanent malaise, a postmodern condition of being a foreigner in the land itself. The series of photographs was developed in the town of Ołdrzychowice Kłodzkie, Poland, formerly Ullersdorf an der Biele, where his family came from. There are 5 digitally manipulated photographs, printed on photographic paper on PS, in addition to a looping projection on the wall. In these apprehensions, in a fetal and red position, the artist acts as a character to merge with the landscape and architecture. After registration, Ursula superimposes two or more photos, creating a double of herself, looking for other meanings for the photographed space.
             Ursula Tautz takes a search trip. Intrigued by the family trajectory, she meets the past that she did not know, but that is always present, populating her daily life with memories and memories. Retracing the path taken by your relatives is a vital, necessary and urgent impulse. More than anything, the artist seeks her history, her places of belonging, her roots. It is important that nothing is overlooked. Neither war, nor famine, nor the home of Poland and its surroundings. Redoing cycles helps to ease anguish and feelings of lack, but never the strangeness of non-belonging!
             The artist's proposal is quite revealing of her concerns. On Polish soil, the birthplace of his ancestors, Ursula seeks to be reborn, to find his place. It takes a fetal position and lets itself be photographed on the ground, on vegetation that grows independently, without care. There is his place of gestation, a secret, cozy and familiar place, but also, in a way, strange. “The strange is something secretly familiar that was 

subjected to repression and then returned ”, according to Freud's mention, of a 1919 article. The identification with the place is so great that it gradually mixes with the vegetation. Light and colors complete the text that appears behind the image. With extreme delicacy, Ursula's images speak of reunion, changes, delivery and acceptance.

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                                                                                                                                                            Isabel Portella

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