FLUIDOSTÁTICA/ FLUIDOSTATIC
Fluidostática, 2015
curadoria de Isabel Sanson Portella
Galeria do Lago, Museu da República,
Rio de Janeiro
Fluidostatics, 2015
Curated by Isabel Sanson Portella
Lake Gallery, Republic Museum,
Rio de Janeiro
Fluidostática, 2015
instalação, conjunto de 18 jarras de vidro, tinta caligráfica, balanços de madeira, cabos de aço
dimensões variáveis
coleção da artista
Fluidostatics, 2015
Installation, set of 18 glass jars, calligraphic ink, wooden swings, steel cables
variable dimensions
artist's collection
DESENHOS/DRAWINGS
Flor/ Flower, 2015 assemblages - desenhos , impressões mecânicas, tinta tinteiro e vidro em molduras idealizadas pela artista 50x30cm cada coleção da artista assemblages - drawings, mechanical prints, ink and glass in frames designed by the artist 50cm x 30cm each artist's collection | Cobra/ Snake, 2015 assemblages - desenhos , impressões mecânicas, tinta tinteiro e vidro em molduras idealizadas pela artista 50x30cm cada coleção da artista assemblages - drawings, mechanical prints, ink and glass in frames designed by the artist 50cm x 30cm each artist's collection | Balão/Baloon, 2015 assemblages - desenhos , impressões mecânicas, tinta tinteiro e vidro em molduras idealizadas pela artista 50x30cm cada coleção da artista assemblages - drawings, mechanical prints, ink and glass in frames designed by the artist 50cm x 30cm each artist's collection |
---|---|---|
Oito/Eight, 2015 assemblages - desenhos , impressões mecânicas, tinta tinteiro e vidro em molduras idealizadas pela artista 50x30cm cada coleção da artista assemblages - drawings, mechanical prints, ink and glass in frames designed by the artist 50cm x 30cm each artist's collection | Polonia/Poland, 2015 assemblages - desenhos , impressões mecânicas, tinta tinteiro e vidro em molduras idealizadas pela artista 50x30cm cada coleção particular assemblages - drawings, mechanical prints, ink and glass in frames designed by the artist 50cm x 30cm each private collection | Gávea, 2015 assemblages - desenhos , impressões mecânicas, tinta tinteiro e vidro em molduras idealizadas pela artista 50x30cm cada coleção da artista assemblages - drawings, mechanical prints, ink and glass in frames designed by the artist 50cm x 30cm each artist's collection |
Concha/Shell, 2015 assemblages - desenhos , impressões mecânicas, tinta tinteiro e vidro em molduras idealizadas pela artista 50x30cm cada coleção da artista assemblages - drawings, mechanical prints, ink and glass in frames designed by the artist 50cm x 30cm each artist's collection | Sino/ Bell, 2015 assemblages - desenhos , impressões mecânicas, tinta tinteiro e vidro em molduras idealizadas pela artista 50x30cm cada coleção da artista assemblages - drawings, mechanical prints, ink and glass in frames designed by the artist 50cm x 30cm each artist's collection | Gabinete/ Cabinet, 2015 assemblages - desenhos , impressões mecânicas, tinta tinteiro e vidro em molduras idealizadas pela artista 50x30cm cada coleção da artista assemblages - drawings, mechanical prints, ink and glass in frames designed by the artist 50cm x 30cm each artist's collection |
Feira/ Fair, 2015 assemblages - desenhos , impressões mecânicas, tinta tinteiro e vidro em molduras idealizadas pela artista 50x30cm cada coleção da artista assemblages - drawings, mechanical prints, ink and glass in frames designed by the artist 50cm x 30cm each artist's collection |
©TANIA BONIN ©ÉGLEA SENNA
TEXTOS/TEXTS
Ursula Tautz, inspirada no universo do Palácio do Catete, ocupa agora o espaço interno da Galeria do Lago com a instalação Fluidostática, pensada especialmente para o local. A arte contemporânea, instigante e com narrativa própria, dialoga com a história do país, permitindo reflexões que perpassam o poder e o equilíbrio, o medo e a sedução, o passageiro e o permanente.
O balanço, objeto poético utilizado pela artista em muitos dos seus trabalhos, traz em si o conceito de movimento, de impulso controlado, de liberdade lúdica. Mas quando Ursula posiciona os balanços em um espaço restrito, inibindo seu movimento natural, modifica sua função primeira e direciona o foco das atenções para o inverso. Na instalação, o equilíbrio estático é necessário para que a tinta dos jarros não se espalhe. Qualquer ação descontrolada pode levar a um derramamento de tinta. A tinta azul de escrever, das canetas tinteiro, das assinaturas, das cartas e declarações. Os presidentes que passaram pelo Palácio do Catete deixaram suas marcas em tinta azul de caneta tinteiro. O poder assinou e redigiu, com tinta azul, declarações de guerra, cartas de despedida, leis e decretos. Qualquer desatenção podia levar a um derramamento de sangue. Um fluido sempre escorre quando forças deformantes lhe são aplicadas. Tinta, água, sangue são fluidos, substâncias que devem estar em movimento para resistir a forças aplicadas externamente.
Fluidostática é o estudo estático dos fluidos. Ursula Tautz escolheu assim nominar a mostra de sua arte. O projeto Fluidostática apresenta através da tinta de escrever uma metáfora sobre o poder, um jogo de equilíbrio frágil e perigoso, silencioso e sedutor que habitou o Palácio do Catete.
Em Ursula vislumbramos a inquietação e a procura incessante por seu lugar de ser e estar. A busca por raízes que possam fixar o que insiste em voar, como balanços. O habitar e o pertencer são questões que permeiam a obra dessa artista que sempre experimentou um deslocamento, uma sensação de ser estrangeira em sua própria terra. Mas que também, ao criar, se deixa envolver pela poética de ser brasileira.
Isabel Sanson Portella
Ursula Tautz, inspired by the universe of Catete Palace, now occupies the internal space of Lake Gallery with the Fluidostatic installation, designed especially for the place. Contemporary art, instigating and with its own narrative, dialogues with the country's history, allowing reflections that permeate power and balance, fear and seduction, the passing and the permanent.
The swing, a poetic object used by the artist in many of her works, brings with it the concept of movement, of controlled impulse, of playful freedom. But when Ursula positions the swings in a restricted space, inhibiting their natural movement, she modifies their primary function and directs the focus of attention to the reverse. In the installation, static balance is necessary so that the paint in the jars does not spread. Any uncontrolled action can lead to an ink spill. Blue writing ink, fountain pens, signatures, letters and statements. The presidents who passed by the Catete Palace left their marks in blue ink from a fountain pen. The government signed and drafted declarations of war, farewell letters, laws and decrees in blue ink. Any inattention could lead to bloodshed. A fluid always flows when deforming forces are applied to it. Ink, water, blood are fluids, substances that must be in motion to resist externally applied forces.
Fluidostatics is the static study of fluids. Ursula Tautz thus chose to name the exhibition of her art. The Fluidostatics project presents, through the ink of writing a metaphor about power, a fragile and dangerous, silent and seductive balance game that inhabited the Catete Palace.
In Ursula we glimpse the restlessness and the constant search for its place of being and belonging. The search for roots that can fix what insists on flying, like swings. Dwelling and belonging are issues that permeate the work of this artist who has always experienced displacement, a feeling of being foreign in her own land. But who also, when creating, gets involved by the poetics of being Brazilian.
Isabel Sanson Portella
Sólidos e Fluidos
"Ursula Tautz vem desenvolvendo experiências artísticas vivamente interessada nos conceitos de memória e narrativa. Os trabalhos apresentados em distintos meios e categorias, tais como objetos, filmes, desenhos tornam-se componentes para a ocupação dos espaços tendendo ao uso da instalação. Em certos caminhos, Ursula pensa a história dos lugares e projeta-se sobre as mesmas. Assim, vemos a artista se relacionar com a paisagem, de lugares estrangeiros, mas que são de algum modo, parte de uma história familiar, ainda que tais histórias venham configurar uma memória pessoal não vivida, mas, sim, transmitida pela oralidade de seus ancestrais.
Na exposição Fluidostática, realizada na Galeria do Lago, no Museu da República, Rio de Janeiro, a artista se dedicou às contradições do imaginário palaciano, austero, mas que, ao mesmo tempo, se cerca de um imenso jardim. Temos, as visões da própria condição da modernidade, pastoral e urbana, austera e fluida, como sólidos que não resolvendo as dicotomias (burguesia e proletariado, poder e direito), se desmanchassem no ar, parafraseando Marshall Berman. Com isso, o poder, as normas e leis decididas e firmadas interessaram à artista, pois se está ocupando um palácio que fora do governo, residência de um Presidente da República, quando o Rio era a Capital Federal.
Ursula, então, se dedica a pensar os estados da matéria, os sólidos e fluidos. Assim, lança mão de objetos e líquidos sígnicos e cênicos, como balanços, vidros e tinta de caneta. Toma-se a decisão de ocupar a galeria com 18 balanços, onde pousam grandes vasilhames de vidro preenchidos pelo azul diluído da carga de caneta. As associações são variadas, a primeira e mais direta se liga ao uso da assinatura, da firma, do gesto de se promulgar e impor e, ao mesmo tempo, da garantia de presença e poder exercida nas regras exercidas, segundo Foucault, nas extremidades, muitas vezes “ultrapassando as regras de direito”. Em outra medida, a presença dos balanços nos incita o pensamento das incertezas, do gesto infantil, do momento em que não se controla o corpo, mas, se aceita o risco, o torpor. Inevitável pensarmos nos azuis de Yves Klein e no Alviceleste de Márcia X.
De tudo, fica evidenciado, na produção de Ursula Tautz, as forças contrastantes, lidando com pesos e flutuações, o repouso do corpo e o movimento e a velocidade do brinquedo. Estamos diante de iminências, ameaças, prenúncios, ainda que a obra nos forneça belas imagens."
Marcelo Campos
Solids and Fluids
"Ursula Tautz has been developing artistic experiences keenly interested in the concepts of memory and narrative. The works presented in different media and categories, such as objects, films, drawings become components for the occupation of spaces tending to use of installations. In certain ways, Ursula thinks the history of the places and projects itself on the same. Thus, we see the artist relate to the landscape, from foreign places, that are somehow part of a family history, even if such stories come to form a personal memory not lived but transmitted by the orality of her ancestors .
In the Fluidostatic exhibition, held at the Lake Gallery, in the Republic Museum, in Rio de Janeiro, the artist devoted herself to the contradictions of the palatial imaginary, austere, but at the same time, surrounded by a huge garden. We have the visions of the very condition of modernity, pastoral and urban, austere and fluid, as solids that do not solve the dichotomies (bourgeoisie and proletariat, power and law), to break up in the air, paraphrasing Marshall Berman. With this, the power, rules and laws decided and signed were of interest to the artist, since she is occupying a palace that belonged to the State, the residence of the Republic President, when Rio was the Federal District.
Ursula, then, is dedicated to think the states of matter, the solids and fluids. In this way, she makes use of objects and signs and scenic liquids, such as swings, glasses and pen ink. The decision is made to occupy the gallery with 18 swings, where large glass containers filled by the diluted blue of pen load. The associations are varied, the first and most direct is linked to the use of the signature, the signature, the gesture of promulgating and imposing and, at the same time, the guarantee of presence and power exercised in the rules exercised, according to Foucault, at the extremities, Often "bypassing the rules of the law". In another measure, the presence of the swings incites us to the thought of uncertainty, of the infantile gesture, of the moment when the body is not controlled, but, if it accepts the risk, the torpor. Inevitably, we should think of the blues of Yves Klein and of Marcia X's Alviceleste.
Of all, it is evidenced in the production of Ursula Tautz, the contrasting forces, dealing with weights and fluctuations, the rest of the body and the movement and speed of the plaything. We are faced with imminence, threats, foreshadowing, even if the work provides us with beautiful images."
Marcelo Campos